sexta-feira, abril 29, 2016

Holy Wave - "Freaks Of Nurture"


Oriundo de Austin, Texas, os Holy Wave editaram recentemente "Freaks Of Nurture" o seu segundo registo de originais, sucedendo ao sedutor "Relax" que apresentaram em concerto por terras lusas. Não se desviando da linha que têm vindo a trilhar desde 2008, os Holy Wave assentam a sua sonoridade num psicadelismo com inclinação pop inspirado nos Byrds, Love, Doors, ao qual acrescentam o típico fuzz do garage-rock dos conterrâneos 13Th Floor Elevators, não se escusando em entrar por territórios dream-pop e shoegaze.

Prosseguindo na aposta em compor canções mais lânguidas do que é usual nestes territórios, (quiçá o calor californiano a fazer das suas), os Holy Wave sabem bem levar a sua água ao moinho e o resultado final são temas povoados de teclados coloridos, nos quais as guitarras ora ondulam num registo surf-jangle ou arrebitam com o fuzz, o baixo e bateria cumprem a função de manter o ritmo e a voz ecoa de uma forma preguiçosa.

A envolvente faixa de abertura "She Put a Seed In My Ear" soa a um cruzamento entre os Real Estate, Allah-las e The Seeds, ao passo que "Wendy Go Round" poderia ser da autoria dos Psychic Ills, já "Western Playland" não destoaria no "Carnival of Light" dos Ride. O ritmo acelera com "You Should Lie" abrandando de seguida com a balada narcótica "California Took My Bobby Away". O espírito dos Spacemen 3 e Stereolab pode ser detetado em "Air Wolf", "Our Pigs" convida ao menear da anca, "Sir Isaac Nukem" tem o carimbo "trippy", enquanto que "Magic Landing" encaixa perfeitamente numa compilação de celebração do Halloween. A viagem termina com "Minstrel's Gal" com adorno de cítara para dar aquele toque especial a um disco que coloca os Holy Wave a um passo de atingir o escalão principal desta nova vaga psicadélica, algo totalmente merecido.


quarta-feira, abril 27, 2016

Noise Rock Mixtape vol.1

01."Kill Yr. Idols" - Sonic Youth 02."Woly Boly" - Butthole Surfers 03."Plaster Casts of Everything" - Liars 04."A Pack Of Wolves" - Black Eyes 05."Sex Automata" - Ex Models 06."The Ugly American" - Big Black 07."Wet Blanket" - METZ 08."Ego Death" - A Place To Bury Strangers 09."Upside Down" - The Jesus & Mary Chain 10."I Feel Insane" - Daisy Chainsaw 11."T.F.A." - Silverfish 12."Thumbscrews" - The Jesus Lizard 13."Swords" - Blacklisters 14."Falco vs. The Young Canoeist" - Mclusky 15."Twenty Iron Men" - Wives 16."Herculoid" - Made Out Of Babies 17."Last Man Standing" - Unsane 18."B1" - Part Chimp 19."Fever Dreaming" - No Age 20."You Made Me Realise" - My Bloody Valentine

sexta-feira, abril 22, 2016

Future Of The Left - "The Peace and Truce Of The Future of The Left"


O quinto álbum dos galeses Future Of The Left liderados pelo carismático Andrew Falkous (Falco) não possui grandes diferenças em relação aos seus antecessores para bem da nossa sanidade auditiva, dada a sua fórmula vencedora assente num noise-rock bem esgalhado, povoado de letras corrosivas salpicadas de humor e cinismo.

Desta feita, o maior destaque de "The Peace and Truce..." recai num maior protagonismo da secção rítmica mercê de uma produção "Albiniana" na qual baixo e bateria fustigam o ouvinte sem piedade enquanto Falco vai cuspindo a sua bílis e estrangulando a sua guitarra, algo bem patente na brutal faixa de abertura "If AT & T Drank Tea What Would The BP Do" com uma linha de baixo reminiscente de um "Kerosene" dos Big Black.

Quiçá um pouco mais agressivo resultado de um retorno ao formato trio, este novo registo financiado em poucas horas pelos seus inúmeros admiradores, demonstra uma banda com uma coesão notável, capaz de criar dinâmicas que balançam entre o rock matemático e riffs mais imediatos, vocalizações que alternam entre a narrativa, a gritaria desenfreada e até o refrão cantarolável, alicerçadas na tal produção seca mas deveras poderosa, de que são exemplo faixas tão contundentes quanto ""The Limits of Battleships", "Eating For None", "Reference Point Zero" e "In A Former Life".

O trilho traçado inicialmente por Falco e o baterista Jack Egglestone no seminais Mclusky prossegue em grande forma com uns Future Of The Left cada vez mais apurados e senhores da sua carreira que ao contrário do titulo do seu novo disco não dão tréguas em abalar os nossos ouvidos e enquanto existirem motivos de sobra para soltar a sua raiva, também não teremos paz!



terça-feira, abril 12, 2016

The Goon Sax - "Up To Anything"


Perante o cenário de um trio australiano praticante de uma "bedroom pop" composto por dois jovens compositores e uma baterista, obviamente que as comparações com os The Go-Betweens serão inevitáveis, se acrescentarmos o importante pormenor que um deles é descendente direto de Robert Forster então não há como escapar a serem vistos como os sucessores naturais dos autores de "Streets of Your Town" e "Bachelor Kisses".

Neste seu registo debutante, Louis Forster, James Harrison e Riley Jones não escondem a influência que os supra-citados possuem na sua sonoridade, mas o que mais impressiona nos The Goon Sax (nome foleiro) é desde logo a capacidade em compor canções do mesmo quilate (da primeira fase, não exageremos), na qual podemos vislumbrar a marca dos Byrds e Jonathan Richman, poderiam até figurar na famosa cassete C86 ou fazer parte do catálogo da influente Flying Nun, tudo boas referências como podem constatar e um sinal inequívoco de estarmos perante uma banda que apesar da devoção a vocês sabem quem, de uma forma tão natural consegue arrebatar com as suas simples melodias, letras juvenis e uma atitude de "não sabemos tocar melhor mas também não nos incomodamos com isso" que remete igualmente para os Beat Happening ou The Pastels.

Creio que será escusado acrescentar muito mais a esta crítica, aconselho-vos apenas a ouvir os 12 temas que compõem "Up To Anything" e deleitarem-se com pérolas pop como "Sometimes Accidentally", "Telephone", "Home Haircuts", "Sweaty Hands" e a canção mais viciante do ano em "Boyfriend". Embora no território musical este ditado não raras vezes soe desfasado da realidade, neste caso podemos mesmo afirmar que quem sai aos seus não degenera e que a par dos Twerps e Dick Diver a pop australiana está de se lhe tirar o chapéu!

quinta-feira, abril 07, 2016

Tacocat - "Lost Time"



"Lost Time" é o terceiro longa-duração dos Tacocat, quarteto oriundo de Seattle que tem vindo a conquistar o seu lugar ao sol mercê de um punk-pop deveras cativante, no qual vislumbramos com facilidade as suas influências mas que no entanto revelam mestria para baralhar e voltar a dar, seja através dos seus refrões que não descolam dias após a audição ou de riffs tão simples quanto eficazes.

Tendo como ponto de partida o punk primário dos Ramones, os Tacocat passam pelo indie-pop dos Shop Assistants e Primitives, mordiscam a sensibilidade melódica com travo punk das Shonen Knife, revelam a sua devoção ao college rock dos 90 (Magnapop, Breeders, That Dog) e obviamente acercam-se das Vivian Girls, Best Coast ou às colegas de editora na Hardly Art, La Luz e Chastity Belt.

"Lost Time" abre com o power-pop de "Dana Katherine Scully" tributo à famosa personagem da série "Ficheiros Secretos". Desconheço o que significa "FDP" (embora em português fosse evidente) mas o seu refrão "FDP don't fuck with me" é algo para cantarolar sem pudor tal como "earthquake, tsunami, there's still no place i'd rather be" na explicita "I Love Seattle". Os que trabalham aos fim-de-semana já possuem um hino para os consolar devidamente em "I Hate The Weekend" e por falar em laborar "You Can't Fire Me, I Quit" poderia ter como autoras as gémeas Deal.

Numa banda composta por três mulheres e um elemento masculino é natural que certos tópicos venham à baila como a discriminação, a arrogância masculina ou a sexualidade de que são exemplos "The Internet", "Men Explain Things To Me" e "Plan A, Plan B", no entanto as principais mensagens que a banda transpira são de auto-confiança, positivismo, humor e acima de tudo, diversão sendo "Night Swimming" o exemplo perfeito. Até ver o mais forte candidato a disco de Verão 2016!