sexta-feira, outubro 28, 2016

Vanishing Twin - "Choose Your Own Adventure"

Projeto liderado por Cathy Lucas outrora membro dos Fanfarlo e mentora de Orlando, os Vanishing Twin, cujo nome provém do raro fenómeno de um gémeo absorver outro ainda em gestação quando um dos fetos morre (algo que ocorreu com Cathy), são uma espécie de super-grupo tendo em conta que nas suas fileiras contam com Valentina Magaletti (Fanfarlo, Tomaga, Neon Neon), o produtor japonês mais conhecido por Zongamin e colaborador nos Floating Points, Phil M.F.U. (Man From Uranus, Broadcast) e o artista visual Elliott Arndt, ao qual acrescenta-se o produtor Malcolm Catto colaborador dos Heliocentrics e Quantic entre outros.

"Choose Your Own Adventure" editado pela conceituada Soundway Records, resulta num disco tipo "caldeirão" no qual despejam diversos ingredientes (pop experimental, krautrock, psicadelismo, easy-listening, jazz, eletrónica, library music, bandas-sonoras), temperos variados (caixas-de-ritmo, vibrafone, sintetizadores, tablas e harpa) e cujo desfecho resulta num disco quiçá com alguma falta de coesão mas suficientemente apetitoso para ser degustado sem embaraço. Perante a descrição facilmente associamos esta fusão sonora a bandas tão marcantes quanto os Stereolab e Broadcast, algo que os Vanishing Twin não terão pudor em confirmar a sua influência, no entanto a banda aponta igualmente para as mesmas fontes de inspiração e não só de modo a não soar a mero pastiche, um objetivo no qual são bem sucedidos.

 "Vanishing Twin Syndrome" a extensa faixa de abertura alicerça-se em dois andamentos, com uma primeira parte assente numa batida à Can fundida com a pop experimental dos The United States of America e algo semelhante a um sampler sacado à banda-sonora de "Get Carter", sendo que a segunda revela a devoção aos Silver Apples adornada por violino e vibrafone. "Telescope" é porventura a mais aproximada aos Broadcast nos seus momentos mais pop ainda assim repleta de efeitos. "Floating Heart" com a sua aura fantasmagórica abre terreno para a cinemática "Eggs" com destaque para o sinistro teclado e a austera percussão com a voz de Cathy a ondular por entre uma ocasional flauta.

"Under The Water" poderia pertencer a um filme obscuro da década de 60, ao passo que "The Conservation of Energy" incorpora elementos conotados com o easy-listening numa espécie de cruzamento entre os Stereolab e os Air. Já o tema que dá titulo ao disco poderia ser assinado pelos Soundcarriers, banda que a par dos Gulp, Virginia Wing e Death and Vanilla bebem (bem) das mesmas fontes. "Truth is Boring" é bossa-nova filtrada pela exotica com manipulação dub, sintetizadores a soltarem blips, ocasionais aparições de harpa e tabla, num total de dez minutos que o Sun Ra aprovaria. A conclusão fica a cargo da faixa-bónus "It Sends My Heart Into a Spin" com uma inclinação mais étnica enfeitada com as costumeiras vocalizações easy. Se escolherem a aventura de entrar no universo sonoro deste disco, decerto não se vão arrepender.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Hips, tits, lips, power! (A tribute to women in rock)

01."Slide" - L7 02."Bluebell" - Babes In Toyland 03."Orange Rolls, Angel Spit" - Sonic Youth 04."Big Bad Baby Pig Squeal" - Silverfish 05."Pink Flower" - Daisy Chainsaw 06."What The Fuck" - Boss Hog 07."Fried My Little Brains" - The Kills 08."Who The Fuck?" - P.J. Harvey 09."Miles Away" - Yeah Yeah Yeahs 10."Scorch" - Bandit Queen 11."Safari" - Breeders 12."Lay It Down" - Magnapop 13."Everybody's Going Wild" - The Detroit Cobras 14."House In My Head" - Sons And Daughters 15."Stutter" - Elastica 16."Eyes Open" - Gossip 17."I Wanna Be Your Joey Ramone" - Sleater-Kinney 18."Don't Tred" - Frankie Rose And The Outs 19."Rollercoaster" - Golden Triangle 20."Damn 92" - Las Robertas 21."Bed Rock" - Shannon And The Clams 22."Free Way" - Beaches 23."Start" - Throwing Muses 24."Now They'll Sleep" - Belly 25."Rock N Roll Nigger" - Patti Smith

segunda-feira, outubro 10, 2016

GOAT - "Requiem"


"Requiem" é o terceiro e mais recente registo de originais deste colectivo sueco que desde a sua estreia em 2012 com "Commune" tem conquistado a critica em geral em virtude da sua original fusão de psicadelismo com diversas sonoridades de vários pontos do globo, e são precisamente essas influências globais que sobressaem neste disco em detrimento do convencional uso de guitarras e pedais de efeito.

Conforme foi possível constatar na sua prestação na última edição do Milhões de Festas, estes mascarados escandinavos fazem uso de uma vasta variedade de instrumentos em particular de percussão,sendo que em estúdio abrem-se possibilidades para mais uns quantos auxiliarem a colorir estes temas que nos transportam para diversas partes do globo, e é nesse aspecto que "Requiem" se diferencia um pouco mais dos anteriores, ou se preferirem a definição, digamos que é um disco mais "folk".

Com uma construção musical que assenta numa certa repetição devedora do psicadélico, nalguns casos próxima de mantras, a banda vai acrescentando com mestria inúmeros elementos sonoros de distintas procedências (Nigéria, Mali, África do Sul, Paquistão, Índia, são apenas alguns exemplos) com a já referida riqueza instrumental onde não faltam flautas, saxofone, pianos, percussões de várias origens, instrumentos de corda típicos de várias regiões (para quando a guitarra portuguesa?), e vocalizações a condizer a cargo das incansáveis vocalistas que ao vivo assumem um papel preponderante no entusiasmo do público.

A meu ver, "Requiem" peca essencialmente pela sua longa duração e um ou outro tema menos conseguido, no entanto o resultado final é deveras satisfatório e revela uma banda sem receio em experimentar e enveredar por terrenos menos usuais.