quarta-feira, dezembro 30, 2015

2015 em concertos

Por diversas razões este ano não foi muito preenchido em termos de concertos, não pela falta de quantidade e qualidade, mas como diz a cantiga "you can't always get what you want", algo que lamento, uma vez que sou daqueles que gosta de tirar a prova dos 9 assistindo a uma banda a tocar e não entretido a dar à letra, a tirar fotos em catadupa ou a marcar o ponto em festivais de grande envergadura enquanto se digere bandas a metro e se publica nas redes sociais. (Eu tenho mau feitio, eu sei!)
Em contrapartida estive orgulhosamente envolvido no Indouro Fest, tive a oportunidade de privar com várias bandas e músicos que admiro, apreciei bandas em locais nunca antes visitados e consegui uns quantos autógrafos e recordações de quem realmente teve impacto no meu crescimento musical.
Apresento por ordem de visionamento a reduzida mas satisfatória lista dos concertos assistidos em 2015, na esperança que 2016 seja mais recheado.


  • Dead Neaderthals  + Orthodox  @ Cave 45 (29-01-2015)
  • Pop Dell' Arte + Plaza @ Hard Club (21-02-2015)
  • Putan Club + Tren Go Sound System @ Cave 45 (24-02-2015)
  • Rated With an X @ Casa de Ló (27-02-2015)
  • Enablers @ Clube de Vila Real (11-03-2015)
  • Luna @ Casa da Musica (26-04-2015)
  • Indouro Fest : Rainy Days Factory/ Lost Rivers/ Electric Litany/ Limiñanas/ Tristesse Contemporaine/ Lucid Dream/ White Haus @ Serra do Pilar (02-05-2015)
  • Indouro Fest : Os Principes / Whistlejacket/ Yuck/ Lola Colt/ Malcontent / British Sea Power @ Serra do Pilar ( 03/05/2015)
  • Mute Swimmer @ Casa de Ló (07-05-2015)
  • Clinic + Toy + Eat Bear @ Hard Club (04-07-2015)
  • Pega Monstro + Filho da Mãe & Ricardo Martins + Girl Band @ CAAA Guimarães (10-10-2015)
  • Rated With an X @ Canhoto (24-10-2015)
  • And So I Watch You From Afar + Homem Em Catarse @ Hard Club (05-11-2015)
  • Lower Dens @ GNRATION (Braga) (22-11-2015)
  • Rita Braga + Ian Svenonius @ Sonoscopia (05-12-2015)

terça-feira, dezembro 15, 2015

Best Of 2015



Esta necessidade de criar uma lista dos melhores discos de cada ano tem muito que se lhe diga, mas levaria a uma dissertação que no final resume-se a um critério pessoal e a determinados factores que influenciaram as escolhas, e além do mais, ninguém gosta de ler textos extensos na net.
Eleger o melhor do ano é tarefa que tenho vindo a evitar e este ano não é excepção, muito embora o mais forte candidato fosse "Holding Hands With Jamie" dos Girl Band. Prefiro resumir um ano de edições musicais a uma quantidade de discos que ouvi amiúde com satisfação e basicamente é isso que conta. Muitos ficaram de fora desta lista de 40 registos, derivado a vários factores e quem sabe, poderão vir a seduzir os meus ouvidos no futuro.
Apesar das inúmeras horas passadas a ouvir os lançamentos de 2015 (acreditem, foram muitas!) é óbvio que muito ficou por descobrir, mas esse questão é a mesma de todos os anos. Sem mais delongas apresento-vos por ordem alfabética os tais "Melhores de 2015" acrescidos de uma pequena resenha e link para a sua audição na esperança que vos desperte o interesse.
Como espécie de bónus adicionei uma mixtape assente em 20 faixas representativas dos tais 40 registos. Ficam os votos de um bom ano, claro está, repleto de boa música!



01 - Blacklisters - "Adult"
Segundo álbum desta formação de Leeds com uma sonoridade noise-rock ao nível do melhor Jesus Lizard e Pissed Jeans. Produção a cargo de MJ dos Hookworms.



02 - Built To Spill - "Untethered Moon"
Regresso em grande forma da banda liderada por Doug Martsch, Quiçá um pouco mais pop mas sempre com aquela qualidade que lhes é reconhecida.




03 - Christian Fitness – "Love Letters In The Age Of Steam"
Christian Fitness é o alter-ego de Andrew Falkous, mentor de bandas como os Mclusky e Future Of The Left. Quem as conhecer já sabe o que a casa gasta!



04 - Conduct - "Fear and Desire"
Perante um disco que foi gravado por Steve Albini e masterizado por Bob Weston, membros dos Shellac, é óbvia a sua influência neste disco mas "Fear and Desire" é muito mais que simples devoção.




05 - Death And Vanilla - "To Where The Wild Things Are"
Terceiro registo deste duo sueco que combinam de forma exemplar exótica, krautrock, library music, bandas sonoras vintage, dream pop ou se preferirem, a banda perfeita para matar saudades dos Stereolab e Broadcast.



06 - Destruction Unit - "Negative Feedback Resistor"
Se algo ainda ficou de pé após a devastação do anterior "Deep Trip", este novo registo tratou de reduzir tudo a cinzas dada a sua carga demolidora.




07 - Disappears - "Irreal"
Art-rock negro, denso e claustrofóbico com elementos da No Wave, Post-Punk e industrial. Não é de fácil assimilação mas ainda bem que assim é.




08 - Enablers - "The Rightful Pivot"
Descrever o som dos Enablers não é uma tarefa que se toma de ânimo leve dada a sua complexidade sonora. Carreguem no link abaixo para confirmar como eu tenho razão. 



09 - Föllakzoid - "III"
Os psicadélicos chilenos voltam à carga com mais uma valente dose de música tripante. Estão prontos para entrar noutra dimensão?
'Bora lá ouvir!





10 - Girl Band – "Holding Hands With Jamie"
As expectativas eram elevadas mas banda irlandesa confirmou em pleno, tanto em disco como ao vivo, que possuem talento, criatividade e energia mais do que suficientes para os seguirmos atentamente num futuro que aparenta ser bastante promissor. Brutal!
'Bora lá ouvir!




11 - Jacco Gardner - "Hypnophobia"
O holandês investe numa pop psicadélica barroca com uma dose experimental q.b. em canções que ficam facilmente na memória.
'Bora lá ouvir!



12 - Krill - "A Distant Fist Unclenching"
Terceiro e infelizmente o derradeiro registo desta formação de Boston. Não tarda surgirão bandas a revelar a sua influência.




13 - La Luz - "Weirdo Shrine"
Surf-pop, harmonias sacadas às girls groups de 60 e uma costela garage são os condimentos necessários para criar um disco estimulante.



14 - Lair – "Test"
Segundo álbum deste desconhecido duo que funde diversas vertentes de uma forma experimental, mas cujo resultado final surge como um todo homogéneo. Confusos?



15 - Leon Bridges - "Coming Home"
Basicamente basta descrever este disco debutante como o melhor registo soul deste ano. 




16 - Lonelady - "Hinterland"
Espécie de tributo à sua Manchester, Julie Campbell elabora um disco cimentado no catálogo da Factory e nos movimentos pós-punk e mutant disco de finais de 70 mas com um toque de modernidade.




17 - Mbongwana Star – "Mbongwana Star"
Combinação dos ritmos congoleses com eletrónica poderá soar algo estranho mas graças à produção de Doctor L., este disco com membros dos Staff Benda Bilili resulta em pleno.



18 - Metz - "II"
Porventura não tão impactante quanto o registo debutante, mas igualmente devastador.




19 - Mikal Cronin - "MCIII"
Desta feita Cronin coloca tudo no assador, seja em termos de diversidade sonora, em arranjos e produção e o resultado é deveras satisfatório.


20 - Minami Deutsch – "Minami Deutsch"
Banda japonesa cria um disco puramente kraut  e soa uma maravilha. Daqueles que apetece colocar em modo repeat. Moca!


21 - Modest Mouse – "Strangers To Ourselves"
Oito anos volvidos os Modest Mouse regressam em forma embora com um disco algo desigual mas ainda assim com um número suficiente de boas canções para figurar nesta lista. Além disso já tinha saudades de Brock e companhia!
'Bora lá ouvir!




22 - OST – "The Man From U.N.C.L.E."
Quiçá fruto da minha recente devoção a bandas sonoras de culto,  não resisti em colocar este disco composto por Daniel Pemberton que honra os grandes nomes do género como Morricone, Schifrin, John Barry e até David Holmes.




23 - PINS – "Wild Nights"
O segundo registo das PINS revela uma maior maturidade sonora vagueando por terrenos comuns às Vivian Girls e aos Duke Spirit.
'Bora lá ouvir!




24 - Pope - "Fiction"
Recuperadores de uma certa estética lo-fi dos anos 90, o disco de estreia dos Pope não é um poço de originalidade mas possuí temas que, para quem cresceu com este som, ainda seduzem e convencem estes ouvidos.
'Bora lá ouvir!




25 - Protomartyr – "The Agent Intellect"
Ao terceiro registo esta banda de Detroit eleva a fasquia e cria o seu melhor registo até à data, revelando um aprimorar na sua construção musical e letras existencialistas.
'Bora lá ouvir!




26 - Salad Boys – "Metalmania"
Herdeiros da sonoridade da Flying Nun e do indie rock americano dos 80, estes neozelandeses foram uma das melhores surpresas deste ano.
'Bora lá ouvir!




27 - Shopping – "Why Choose"
Segundo álbum deste trio londrino repleto de ritmos punk-funk com uma atitude politizada. A revolução também pode ser uma festa!



28 - Sleaford Mods - "Key Markets"
Não existem grandes mudanças em relação ao anterior "Divide & Exit", uma produção mais aprimorada, batidas mais refinadas mas não é preciso mexer muito numa fórmula vencedora.


29 - Someone Still Loves You Boris Yeltsin - "The High Country"
Mais rock do que é usual nesta banda mas sempre com a pop a pontuar as suas canções, numa carreira que conta já com cinco discos merecedores de atenção.
'Bora lá ouvir!




30 - Songhoy Blues – "Music In Exile"
O desert blues do Mali numa luta acesa com a tradição blues/rock americana, pincelada com ritmos funky. Quem ganha é o ouvinte!
'Bora lá ouvir!




31 - Spray Paint - "Punters On A Barge"
Os texanos Spray Paint são dignos herdeiros de uma geração de bandas underground americanas dos 80 cujo legado pode ser apreciado neste disco.




32 - The Lucid Dream - "The Lucid Dream"
Por entre tanto revivalismo psicadélico, os The Lucid Dream revelam-se como uma banda que não pretende meramente imitar, mas acima de tudo, evoluir, algo que se faz notar neste segundo álbum.
'Bora lá ouvir!





33 - The TeleVibes – "High Or Die"
Banda que aos poucos tem vindo a conquistar alguma notoriedade no povoado cenário indie americano, editam o primeiro disco que espremido resulta num ep do caraças!
'Bora lá ouvir!




34 - Thee Oh Sees - "Mutilator Defeated At Last"
Disco mais musculado que o anterior "Drop" e digno sucessor do poderoso "The Putrifiers II". Como diria o homem da Regisconta a banda de John Dwyer é "aquela máquina!"
'Bora lá ouvir!




35 - Tijuana Panthers - "Poster"
Limparam alguma da sujidade habitual no seu som e criaram um conjunto de canções que saltita entre o garage, o surf, o punk e a pop.
'Bora lá ouvir!




36 - TRAAMS – "Modern Dancing"
Mais um disco produzido por MJ dos Hookworms (não foi propositado!) desta feita o segundo álbum deste trio inglês cujas coordenadas sonoras apontam para várias direcções dentro do espectro indie-rock.
'Bora lá ouvir!



37 - Twerps - "Range Anxiety"
Este é daqueles que cola logo à primeira e felizmente não acaba por enjoar. Um belo disco pop desta formação australiana.
'Bora lá ouvir!




38 - Ultimate Painting - "Green Lanes"
Nem um ano volvido, Jack Cooper (Mazes) e James Hoare (Veronica Falls) voltam ao ataque com as suas melodias simples mas devera eficazes.
'Bora lá ouvir!




39 - White Reaper - "White Reaper Does It Again"
Outro registo que aguardava com ansiedade, a estreia dos White Reaper é uma fusão de garage-punk-rock com refrões orelhudos e teclados New Wave.
'Bora lá ouvir!



40 - Yo La Tengo - "Stuff Like That There"
Espécie de continuação daquele irresistível "Fakebook" (1990) no qual a banda desliga-se um pouco da eletricidade para recriar alguns dos seus temas, apresentar novas canções, e claro está, desbundar umas quantas versões como só eles sabem fazer.
'Bora lá ouvir!

Bónus Mixtape


segunda-feira, novembro 30, 2015

The TeleVibes - "High or Die"



Outrora destacados neste espaço, desta feita volto a redigir umas linhas sobre os The TeleVibes em virtude da edição do seu primeiro longa duração "High or Die" editado no passado mês de Maio e passível de ser descarregado gratuitamente aqui.

Se os registos anteriores indiciavam uma banda cujas coordenadas sonoras apontavam para o rock psicadélico, o garage rock e o surf-pop, neste disco reforçam o ênfase no psicadelismo, desde logo através da sua capa e diversos piscar de olho ao Pink Floyd em faixas como "The Piper At The Gates of Bong" e "Pete ColdPack". No entanto o trio não se deixa levar completamente pela corrente psicadélica, continuando a compor faixas que não destoariam num disco dos Thee Oh Sees com guitarras repletas de fuzz e vocalizações reverberadas de que são exemplo "DMT", "Asyd" e "Ex To See".

Se retirarmos os interlúdios experimentais algo inconsequentes, acabamos com um ep de elevada categoria e o reforço de que os The TeleVibes são uma banda a ter em conta no futuro.


quarta-feira, novembro 18, 2015

Shopping - "Why Choose"



Segundo registo do trio londrino composto por Rachel Haggs, Billy Easter e Andrew Milk que aos poucos tem vindo a conquistar o seu espaço graças a uma sonoridade tipicamente devedora da vaga pós-punk, mas que apesar de facilmente detetarem-se as influências (ESG, Delta 5, Au Pairs, Slits, Talking Heads, Kleenex, Bush Tetras, The B-52's) soam a algo que não inovador mas bem elaborado e de fácil assimilação.

Se o registo de estreia "Consumer Complaints" revelava uma banda promissora, este "Why Choose" confirma as expetativas criadas pelo seu antecessor, denunciando uma banda consciente da sua mensagem politica, embora sem radicalismos, e com uma percepção musical assente nas premissas do género mas demonstrando que dentro de um estilo tão batido ainda existe espaço de manobra para criar algo minimamente interessante.

Para além das referências musicais citadas, sempre com o ritmo como foco primordial, ou se preferirem, em colocar o ouvinte ou espetador a mover o corpo,os Shopping tentam acima de tudo, conjugar a crítica politica e social inerente a esta vertente sem entrar num registo sonoro repleto de agressividade mas sim de ondas sonoras dançáveis, porque a mensagem não tem de ser cuspida para ser compreendida.

Em apenas meia-hora os Shopping despacham 12 temas nos quais gostaria de ouvir mais o diálogo da voz feminina/masculina como em "Straight Lines", contudo o jogo de vozes é um dos trunfos da sua sonoridade, sempre alicerçado em guitarras devedoras dos Wire ou Gang of 4, baixos repletos de groove e batidas ritmadas. Por vezes remetem para exemplos mais recentes como o caso das Electrelane ou dos Gossip mas as suas raízes estão bem vincadas na viragem da década de 70.


quarta-feira, outubro 28, 2015

Christian Fitness - "Love Letters In The Age Of Steam"



Christian Fitness é o alter-ego de Andrew Falkous (Falco para os amigos) mentor de bandas tão relevantes quanto os Mclusky e Future of The Left, que nesta sua "one man band" decide dar vazão à sua criatividade tocando todos os instrumentos à excepção da bateria.

Após ter editado "I Am Scared Of Everything That Isn't Me" no passado ano, Falco volta à carga com "Love Letters In The Age Of Steam" de momento apenas disponível para download através da sua página no Bandcamp. Como apreciador do seu trajecto musical assente num rock bastante abrasivo e letras corrosivas, confesso que tive algum receio em ouvir este registo, uma vez que, regra geral, a tendência dos músicos é suavizar e revelar outra faceta mais intimista e menos usual nas bandas que os impulsionaram para um certo reconhecimento. Felizmente não é esse o caso, e diria até que este "Love Letters" poderia fazer parte da discografia dos Future Of The Left.

A rondar os 30 minutos de duração, Falco despacha 10 faixas maioritariamente curtas mas plenas de consistência numa fusão de punk, noisy-indie-rock mas sempre com um sentido melódico e refrões que noutra dimensão seriam cantaroláveis por muitos. Destaque para o registo vocal empregue que tanto balança em narrador de histórias de suspense, oscila num falsete esquizofrénico e termina num berreiro já marca registada, muito embora perca alguma intensidade quando entra numa faceta de "cantor pop".

Pleno de temas demolidores como "Upset Army", "Middleyurt" e a faixa que dá titulo a este disco, no entanto existe espaço para temas mais pop "Standard Issue Grief", experiências a roçar o Prince cruzado com Pixies em "The Harder It Hits"ou o abalo sónico de "3 Speed Limiters". Peca na parte final com um "Who Is Iron God?" algo irritante e "Psychic Reader" numa espécie de synth-pop com demasiado teclado para o meu gosto.

Christian Fitness pode ir editando discos que desta forma não sinto a falta dos Future Of The Left!


quarta-feira, outubro 21, 2015

Lair - "Test"




Os Lair são um duo oriundo de Boston composto pelos multi-instrumentalistas John Moxley e Alek Glasrud e "Test" é o seu segundo registo sucedendo ao recomendável homónimo disco editado em 2014. Com uma sonoridade algo complexa de descrever, onde se vislumbram elementos típicos do krautrock, valentes doses de noise-rock, eletrónica marada, e um manto experimentalista a cobrir todo o disco, os Lair revelam-se uma banda deveras excitante graças a toda esta fusão que resulta num disco que peca por curto e leva o ouvinte a salivar por mais.

Embora as influências não sejam fáceis de detetar, acredito que a banda seja apreciadora de Boredoms, Deerhoof, Devo, Suicide ou de exemplos mais recentes como os Liars, DFA 1979 e bandas mais obscuras como os Whirlwind Heat, Ex Models, Dmonstrations ou Black Eyes, no entanto o duo consegue dar um cunho bastante pessoal aos sete temas que preenchem este "test" que na gíria escolar teria uma nota bem elevada, ainda para mais porque disponibilizam gratuitamente a sua descarga.

sexta-feira, outubro 16, 2015

Protomartyr - "The Agent Intellect"



Quarteto oriundo de Detroit, os Protomartyr acabam de editar "The Agent Intellect" o seu terceiro longa-duração que decerto elevará a banda a outros patamares em termos de público e reconhecimento, graças a um refinamento da sua sonoridade outrora assente num garage rock apunkalhado com laivos de post-punk.

Um dos trunfos dos Protomartyr assenta obviamente em Joey Casey, tanto pela sua escrita como pela forma de cantar cada vez mais apurada, sem contudo olvidar uma banda que a cada registo revela uma maior coesão e inventividade. Com um titulo retirado a uma teoria filosófica, "The Agent Intellect" espelha um certo negrume derivado ao falecimento dos pais de Joey aquando da elaboração deste disco, fator preponderante para uma escrita mais focada em tópicos como a mortalidade, o bem e o mal, religião e demónios.

Com um maior pendor para a vertente post-punk cruzada com um familiar indie-rock, que tanto parte dos Joy Division, The Fall e Pere Ubu, trilha terreno desbravado por Nick Cave, diverge por caminhos mais punk-rock dos Parquet Courts e deságua no pantanoso território habitado pelos The National, "The Agent Intellect" reflete uma maior paleta sonora que os seus antecessores assim como uma vertente melódica omissa nos anteriores registos, no entanto convêm ter atenção no futuro para não cair no tal terreno "pantanoso".


quarta-feira, outubro 07, 2015

Girl Band - "Holding Hands With Jamie"



Quiçá o disco de estreia mais aguardado deste ano (pelo menos para mim) "Holding Hands With Jamie" surge finalmente após vários ep's e singles que revelam a progressão desta banda irlandesa cujo percurso parte de uma sonoridade devedora dos Nirvana (fase "Bleach") para culminar num pós-punk bastante ruidoso de contornos industriais ao qual não se escusam de adicionar batidas tecno e cacofonia No Wave.

Diria que o maior trunfo dos Girl Band alicerça-se em criar dinâmicas que surpreendam o ouvinte, e numa altura em que parece que nada mais há a inventar em termos musicais, é com imenso agrado que ao ouvir vários temas neste disco fico espantado perante certas derivações e detalhes dos quais não estava à espera, seja através da bateria que amiúde escapa do seu conceito habitual, da guitarra a soar a um berbequim ou da forma de cantar de Dara Kiely que varia entre um tipo a tender para o ébrio a fazer um frete e a balbuciar palavreado inconsequente para num ápice desatar num berreiro desenfreado e descontrolado, como que irritado com o mundo por simplesmente a manteiga não ser de boa qualidade!

Detalhe deveras importante neste disco assenta igualmente na produção levada a cabo pela banda, aumentando e diminuindo determinadas pistas na mistura criando uma atmosfera sonora que assemelha-se a uma captação perdida num qualquer armazém abandonado com o espirito dos Einsturzende Neubauten a assombrar a gravação.

De exemplos estrepitosos mais recentes como os Yvette, Metz e Blacklisters, passando pelo experimentalismo dos Liars e Battles, até ao rock semi-industrial dos Big Black, Swans e Cop Shoot Cop, sem olvidar o registo vocal de Mark E. Smith e David Yow, tudo isto é detetável neste registo mas conjugado de uma forma criativa cuja audição requer alguma insistência (para os ouvidos mais sensíveis) revelando-se verdadeiramente compensadora no final.


quinta-feira, outubro 01, 2015

Salad Boys - "Metalmania"


Apoiados no legado da Flying Nun, editora neozelandesa que marcou o panorama indie na década de 80 com bandas como os The Chills, The Bats, The Clean e Verlaines, os Salad Boys estreiam-se com o longa duração "Metalmania" na cada vez mais influente Trouble In Mind Records.

Após um mini-lp editado em 2013 que lhes assegurou alguma notoriedade fora de portas, o trio composto por Joe Sampson, Ben Odering e Jim Nothing que curiosamente foi recrutado por David Kilgour dos The Clean como banda de apoio, surge com um admirável disco no qual é inequívoca a marca da Flying Nun mas que felizmente não se fica pela prata da casa e estende o seu rol de influências em particular ao rock alternativo americano dos anos 80, mais concretamente aos Feelies onde se inspiraram para batizar a banda, aos Television, R.E.M., Replacements, e igualmente dos 90 com piscadelas sonoras aos Lemonheads, Yo La Tengo, Pavement e Sebadoh.

Alternando temas mais jangle pop com a guitarra acústica a marcar a cadência ("Here's No Use", "Better Pickups", "Bow To Your New Sensation", "First Eight") e mais elétricos ("Dream Date", "No Taste Bomber, "I'm A Mountain", "Hit Her And Run"), o resultado final é um disco bem conseguido, roçando a excelência em vários momentos e que augura aos Salad Boys um futuro deveras promissor. Para tirar as dúvidas basta clicar aqui e desfrutar um dos melhores discos editados este ano.

quarta-feira, setembro 23, 2015

Blacklisters - "Adult"



Num recente artigo publicado na Louder Than War, os Blacklisters foram convidados a enumerar 10 bandas que influenciaram o seu som. Muito embora todos os elementos tenham um gosto eclético, a lista assenta em bandas ora de nomeada (Shellac, Jesus Lizard, Melvins, Gang of 4, Devo, Big Black, Pissed Jeans) ou mais obscuras (Kong, Hawk Eyes, Daughters) revelando desde logo, uma base sonora que assenta num universo mais noisy, pesado e matemático ao qual poderíamos acrescentar os Unsane, Helmet ou os mais recentes Mclusky, Pulled Apart By Horses, Young Widows e Dope Body.

"Adult" é o segundo registo de originais deste quarteto de Leeds, após a estreia em 2012 com o fulgurante "Blklstrs", e perante o parágrafo anterior está bom de ver que não estamos a falar de música pop mas sim de um rock ruidoso, desconfortável, massacrante, agitador, "in-your-face", que pega no ouvinte pelos colarinhos e cospe-lhe na cara enquanto os seus tímpanos explodem dada a agressividade decibélica emitida ao longo das 10 faixas que compõem este disco, ao qual não falta um toque de humor e sarcasmo patente em títulos como "The Sadness of Axl Rose", "I Knock Myself Out" ou "Power Ballad", sem esquecer o grafismo que ilustra a sua capa.

Perante tal cenário, estão mais do que informados sobre o que vão encontrar neste disco, e se os vossos estimados ouvidos ainda clamam por uma boa dose de noise-rock, então "Adult"  tratará de os saciar devidamente!

quarta-feira, setembro 16, 2015

Destruction Unit - "Negative Feedback Resistor"



Formados em inicio deste século, os Destruction Unit contam já com uma apreciável discografia e uma carreira com diversas mudanças na composição da banda da qual fez parte o malogrado Jay Reatard. "Negative Feedback Resistor" é o oitavo disco de originais e sucede ao estonteante "Deep Trip" igualmente na influente editora Sacred Bones.

Apostados em massacrar o ouvinte (no bom sentido), os Destruction Unit prosseguem com este novo registo num abalo auditivo assente na velocidade punk/hardcore, no niilismo dos Pussy Galore, no rock cavernoso dos Birthday Party, na agressividade dos Scratch Acid à qual podemos acrescentar a nova geração ruidosa dos Metz, Pissed Jeans, The Men (primeira fase) e o uso e abuso de pedais de efeitos ao estilo de uns A Place To Bury Strangers e White Hills.

"Disinfect" abre as hostilidades em crescendo para não mais dar tréguas até ao final, num turbilhão sonoro com uma bateria em espancamento contínuo, guitarras distorcidas e mergulhadas em diversos efeitos com uma ligeira inclinação para o psicadélico e vocalizações possessas entre um Nick Cave, Lux Interior e David Yow, resultando num disco que poderia ser o seguimento natural de "Horse Of The Dog" dos The 80's Matchbox B-Line Disaster.

Se todas estas referências vos seduzem, podem efetuar o download do álbum aqui e comprovar que os Destruction Unit são uma das bandas mais entusiasmantes e barulhentas da atualidade.