quarta-feira, outubro 28, 2015
Christian Fitness - "Love Letters In The Age Of Steam"
Christian Fitness é o alter-ego de Andrew Falkous (Falco para os amigos) mentor de bandas tão relevantes quanto os Mclusky e Future of The Left, que nesta sua "one man band" decide dar vazão à sua criatividade tocando todos os instrumentos à excepção da bateria.
Após ter editado "I Am Scared Of Everything That Isn't Me" no passado ano, Falco volta à carga com "Love Letters In The Age Of Steam" de momento apenas disponível para download através da sua página no Bandcamp. Como apreciador do seu trajecto musical assente num rock bastante abrasivo e letras corrosivas, confesso que tive algum receio em ouvir este registo, uma vez que, regra geral, a tendência dos músicos é suavizar e revelar outra faceta mais intimista e menos usual nas bandas que os impulsionaram para um certo reconhecimento. Felizmente não é esse o caso, e diria até que este "Love Letters" poderia fazer parte da discografia dos Future Of The Left.
A rondar os 30 minutos de duração, Falco despacha 10 faixas maioritariamente curtas mas plenas de consistência numa fusão de punk, noisy-indie-rock mas sempre com um sentido melódico e refrões que noutra dimensão seriam cantaroláveis por muitos. Destaque para o registo vocal empregue que tanto balança em narrador de histórias de suspense, oscila num falsete esquizofrénico e termina num berreiro já marca registada, muito embora perca alguma intensidade quando entra numa faceta de "cantor pop".
Pleno de temas demolidores como "Upset Army", "Middleyurt" e a faixa que dá titulo a este disco, no entanto existe espaço para temas mais pop "Standard Issue Grief", experiências a roçar o Prince cruzado com Pixies em "The Harder It Hits"ou o abalo sónico de "3 Speed Limiters". Peca na parte final com um "Who Is Iron God?" algo irritante e "Psychic Reader" numa espécie de synth-pop com demasiado teclado para o meu gosto.
Christian Fitness pode ir editando discos que desta forma não sinto a falta dos Future Of The Left!
quarta-feira, outubro 21, 2015
Lair - "Test"
Os Lair são um duo oriundo de Boston composto pelos multi-instrumentalistas John Moxley e Alek Glasrud e "Test" é o seu segundo registo sucedendo ao recomendável homónimo disco editado em 2014. Com uma sonoridade algo complexa de descrever, onde se vislumbram elementos típicos do krautrock, valentes doses de noise-rock, eletrónica marada, e um manto experimentalista a cobrir todo o disco, os Lair revelam-se uma banda deveras excitante graças a toda esta fusão que resulta num disco que peca por curto e leva o ouvinte a salivar por mais.
Embora as influências não sejam fáceis de detetar, acredito que a banda seja apreciadora de Boredoms, Deerhoof, Devo, Suicide ou de exemplos mais recentes como os Liars, DFA 1979 e bandas mais obscuras como os Whirlwind Heat, Ex Models, Dmonstrations ou Black Eyes, no entanto o duo consegue dar um cunho bastante pessoal aos sete temas que preenchem este "test" que na gíria escolar teria uma nota bem elevada, ainda para mais porque disponibilizam gratuitamente a sua descarga.
sexta-feira, outubro 16, 2015
Protomartyr - "The Agent Intellect"
Quarteto oriundo de Detroit, os Protomartyr acabam de editar "The Agent Intellect" o seu terceiro longa-duração que decerto elevará a banda a outros patamares em termos de público e reconhecimento, graças a um refinamento da sua sonoridade outrora assente num garage rock apunkalhado com laivos de post-punk.
Um dos trunfos dos Protomartyr assenta obviamente em Joey Casey, tanto pela sua escrita como pela forma de cantar cada vez mais apurada, sem contudo olvidar uma banda que a cada registo revela uma maior coesão e inventividade. Com um titulo retirado a uma teoria filosófica, "The Agent Intellect" espelha um certo negrume derivado ao falecimento dos pais de Joey aquando da elaboração deste disco, fator preponderante para uma escrita mais focada em tópicos como a mortalidade, o bem e o mal, religião e demónios.
Com um maior pendor para a vertente post-punk cruzada com um familiar indie-rock, que tanto parte dos Joy Division, The Fall e Pere Ubu, trilha terreno desbravado por Nick Cave, diverge por caminhos mais punk-rock dos Parquet Courts e deságua no pantanoso território habitado pelos The National, "The Agent Intellect" reflete uma maior paleta sonora que os seus antecessores assim como uma vertente melódica omissa nos anteriores registos, no entanto convêm ter atenção no futuro para não cair no tal terreno "pantanoso".
quarta-feira, outubro 07, 2015
Girl Band - "Holding Hands With Jamie"
Quiçá o disco de estreia mais aguardado deste ano (pelo menos para mim) "Holding Hands With Jamie" surge finalmente após vários ep's e singles que revelam a progressão desta banda irlandesa cujo percurso parte de uma sonoridade devedora dos Nirvana (fase "Bleach") para culminar num pós-punk bastante ruidoso de contornos industriais ao qual não se escusam de adicionar batidas tecno e cacofonia No Wave.
Diria que o maior trunfo dos Girl Band alicerça-se em criar dinâmicas que surpreendam o ouvinte, e numa altura em que parece que nada mais há a inventar em termos musicais, é com imenso agrado que ao ouvir vários temas neste disco fico espantado perante certas derivações e detalhes dos quais não estava à espera, seja através da bateria que amiúde escapa do seu conceito habitual, da guitarra a soar a um berbequim ou da forma de cantar de Dara Kiely que varia entre um tipo a tender para o ébrio a fazer um frete e a balbuciar palavreado inconsequente para num ápice desatar num berreiro desenfreado e descontrolado, como que irritado com o mundo por simplesmente a manteiga não ser de boa qualidade!
Detalhe deveras importante neste disco assenta igualmente na produção levada a cabo pela banda, aumentando e diminuindo determinadas pistas na mistura criando uma atmosfera sonora que assemelha-se a uma captação perdida num qualquer armazém abandonado com o espirito dos Einsturzende Neubauten a assombrar a gravação.
De exemplos estrepitosos mais recentes como os Yvette, Metz e Blacklisters, passando pelo experimentalismo dos Liars e Battles, até ao rock semi-industrial dos Big Black, Swans e Cop Shoot Cop, sem olvidar o registo vocal de Mark E. Smith e David Yow, tudo isto é detetável neste registo mas conjugado de uma forma criativa cuja audição requer alguma insistência (para os ouvidos mais sensíveis) revelando-se verdadeiramente compensadora no final.
quinta-feira, outubro 01, 2015
Salad Boys - "Metalmania"
Apoiados no legado da Flying Nun, editora neozelandesa que marcou o panorama indie na década de 80 com bandas como os The Chills, The Bats, The Clean e Verlaines, os Salad Boys estreiam-se com o longa duração "Metalmania" na cada vez mais influente Trouble In Mind Records.
Após um mini-lp editado em 2013 que lhes assegurou alguma notoriedade fora de portas, o trio composto por Joe Sampson, Ben Odering e Jim Nothing que curiosamente foi recrutado por David Kilgour dos The Clean como banda de apoio, surge com um admirável disco no qual é inequívoca a marca da Flying Nun mas que felizmente não se fica pela prata da casa e estende o seu rol de influências em particular ao rock alternativo americano dos anos 80, mais concretamente aos Feelies onde se inspiraram para batizar a banda, aos Television, R.E.M., Replacements, e igualmente dos 90 com piscadelas sonoras aos Lemonheads, Yo La Tengo, Pavement e Sebadoh.
Alternando temas mais jangle pop com a guitarra acústica a marcar a cadência ("Here's No Use", "Better Pickups", "Bow To Your New Sensation", "First Eight") e mais elétricos ("Dream Date", "No Taste Bomber, "I'm A Mountain", "Hit Her And Run"), o resultado final é um disco bem conseguido, roçando a excelência em vários momentos e que augura aos Salad Boys um futuro deveras promissor. Para tirar as dúvidas basta clicar aqui e desfrutar um dos melhores discos editados este ano.
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