quarta-feira, março 30, 2016

Breve sumário da música alternativa em Portugal

Breve sumário da música alternativa em Portugal é uma mixtape representativa da produção "indie" nacional desde a sua génese na década de 80 até ao presente. Alerta: contêm vários instrumentais, muitas cantadas em inglês e escassas em português.

sexta-feira, março 25, 2016

Mugstar - "Magnetic Seasons"



Com uma carreira que remonta a 2003, os Mugstar têm vindo gradualmente a angariar a reputação de uma das bandas mais criativas do espectro do psicadelismo deste século, mercê das suas performances ao vivo e de não se limitarem a copiar os baluartes do género. Muito embora a pegada dos Hawkwind e Pink Floyd seja evidente na sua sonoridade, fortes ecos dos krautrock fazem-se igualmente sentir, para além de riffs à Black Sabbath, ondulações típicas do denominado post-rock, a cadência de uns Spacemen 3 e semelhanças sonoras com os Föllakzoid ou Wooden Shjips.

Resultado de terem possivelmente mais tempo em estúdio, os de Liverpool não se fizeram rogados e editam desta feita o ambicioso "Magnetic Seasons" como um duplo álbum na Rock Action Records pertença dos escoceses Mogwai. Dada a qualidade técnica evidente dos seus elementos, os Mugstar aproveitam para expandir todo o seu potencial criativo (não confundir com virtuosismo técnico bacoco) ao longo de 9 faixas que alternam entre os 5 e 18 minutos de duração, nas quais empregam dinâmicas bem engendradas de forma a que os temas possuam uma fluidez natural mesmo picando o ponto em diversos territórios de que são exemplo " Unearth", "Flemish Weave" ou "Time Machine".

Mesmo sendo apreciador de temas que me transportam a outras dimensões, ainda assim a banda não consegue evitar uma certa saturação em particular na segunda metade do disco no qual a vaga cósmica está demasiado presente fazendo com que o disco vá perdendo fulgor até seu término com o xamânico "Ascension Island". Acredito que ao vivo esta vertente ganhe até outra vida mas em disco acaba por soar a mera desbunda na qual ninguém se atreveu a parar de tocar ou simplesmente a abrir os olhos. Quiçá resultará melhor sob o efeito de certas substâncias? Fico a aguardar o regresso a Portugal para tirar as dúvidas.


sexta-feira, março 18, 2016

Cavern Of Anti-Matter - "Void Beats/Invocation Trex"



Após a dissolução/hiatus indefinido dos seminais Stereolab, foi da parte de Laetitia Sadier que obtivemos mais novidades musicais, no entanto o seu ex-marido Tim Gane não deixou de estar ativo embora mais entretido com produções para bandas-sonoras e instalações sendo que de uma dessas experiências sonoras em Berlim onde atualmente Tim reside, resultou a formação de uma nova banda com a inclusão do ex-baterista dos Stereolab Joe Dilworth e do músico germânico Holger Zapf.

"Void Beats/Invocation Trex" surge no mercado após a edição de um mini-álbum e uns quantos 12" e revela uma banda que como seria de esperar possuí no seu ADN muito do que tornou a sua anterior banda um caso único mas explora igualmente outros territórios num disco algo extenso mas rico em pormenores ao qual não faltaram à chamada os colaboradores de longa data Sonic Boom e Sean O'Hagan.

"Tardis Cymbals" abre as hostilidades com os seus quase 13 minutos de duração conduzida pela batida motorik e eletrónica cósmica tão marcantes do movimento krautrock. Se a marca dos NEU! se faz sentir ao longo do disco, igualmente a eletrónica pioneira dos Kraftwerk tem um peso considerável e para tal basta atentar em faixas como "Blowing My Nose Under Close Observation" que pisca o olho a Afrika Bambaataa, "Insect Fear" e "Pantechnicon".  O denominado electro dos anos 80 também dá um ar da sua graça em "Hi-Hats Bring The Hiss", "Echolalia" e belisca na EBM em "Void Beat".

"Melody In High Feedback Tones" poderia figurar em qualquer disco dos Stereolab dado o seu cariz mais pop e a pedir a voz de Laetitia, no entanto as poucas vozes que se fazem representar neste disco são de Bradford Cox (Deerhunter) em "Liquid Gate" um curto tema pop de contornos psicadélicos, e de Sonic Boom na leitura de um manifesto em "Planetary Folklore" um desvario cósmico com diversas manipulações vocais. Por fim não poderiam faltar as incursões ao território das bandas sonoras e library music em "Black Glass Actions" e a derradeira faixa "Zone Null".

Sem estar previsto Tim Gane volta a fazer parte de um grupo e pela amostra deste disco, estou em crer que será algo da qual retira imenso prazer em o fazer e quem ganha são os nossos ouvidos.



quinta-feira, março 10, 2016

Big Ups - "Before A Million Universes"



Após o bem recebido registo de estreia "Eighteen Hours of Static", os Big Ups oriundos de Brooklyn, retornam com "Before A Million Universes" na cada vez mais proeminente Exploding In Sound Records. Se no disco debutante a costela post-hardcore era por demais evidente, neste novo disco a banda revela uma maior diversidade sonora e uma dinâmica na construção dos seus temas que merece ser louvada.

Muito embora os Big Ups sigam a cartilha do género cujos fundamentos poderemos encontrar em inúmeras bandas da Dischord com os Fugazi na cabeça do pelotão, desta feita a banda tenta soltar-se das amarras dessa onda ao inclinar-se para o território dos Slint, Rodan, Unwound e até os primórdios dos June of 44, evitando a colagem demasiado óbvia a esta vertente.

Com uma abertura a pender para os Refused em "Contain Myself", desde logo os Big Ups desvelam os pilares em que este disco assenta: vocalizações entre o narrativo e a gritaria, dinâmicas de guitarra que ora soam melódicas ora explodem com todo o fulgor e uma secção rítmica que não se limita a seguir o texto tendo abertura para soltar-se quando é necessário. Acima de tudo, o que é manifestado neste disco é uma obra coesa, com uma produção sem mácula, a cargo de uma banda que pretende evoluir sem receio de fugir a certos clichés, bastando atentar em temas como "Posture", "Meet Where We Are", "Negative", So Much You" para descortinar várias partes numa mesma canção, e que canções!

sexta-feira, março 04, 2016

Kal Marks - "Life Is Alright, Everybody Dies"


Uma das bandas mais entusiasmantes do fértil cenário indie de Boston, os Kal Marks acabam de editar o seu terceiro álbum "Life Is Alright, Everybody Dies" após o poderoso "Life is Murder" que figurou na minha lista dos melhores de 2013 e do ep com o curioso titulo "Just A Lonely Fart".

Se no anterior registo o pessimismo perante a espécie humana imperava, desta feita uma certa resignação e até alguma esperança é refletida, bastando para tal atentar no titulo do novo álbum em contraponto com o seu antecessor. Segundo o mentor da banda Carl Shane, aquando da gravação de "Life Is Murder" terá atravessado uma depressão que a pouco e pouco foi aliviando sendo este novo disco o espelho de uma nova mentalidade em tentar viver melhor a sua existência.

Musicalmente falando, o trio mantêm uma química estupenda, sacando "coelhos da cartola" com uma facilidade absurda dada a dinâmica deveras inventiva com que impregnam as dez faixas que compõem este "Life is Alright...".  Provavelmente não serão a banda mais fácil de assimilar, uma vez que o registo vocal de Shane está a milhas do pretendido por um qualquer júri de um programa de treta de novos talentos vocais, (e ainda bem que assim é!), além do mais a sua sonoridade é densa, brutal, com a emoção à flor da pele exposta em sucessivas erupções sonoras e com uma produção "seca" que lhes assenta como uma luva, contudo a sua combinação melódica de um legado indie-rock dos 90 alimentada pela garra do post-hardcore resulta em faixas soberbas como a extensa "Coffee" com uma estrutura digna de uns Karate,  o relembrar dos subvalorizados Rodan em "Loneliness Only Lasts Forever", dos Polvo e Unwound em "Everybody Dies" sem olvidar a marca dos Fugazi, Shellac e Jesus Lizard ao longo de todo o disco.

Por mais adjectivos que encontre para descrever "Life is Alright, Everybody Dies", creio que simplifico a questão afirmando de uma forma bem direta que este disco é do caralho e chega!