Com uma carreira que ascende a mais de 30 anos, encerra-se com este "The Glowing Man" mais um capitulo na vasta e turbulenta discografia dos Swans sempre com Michael Gira a comandar as operações. Esta nova fase que se iniciou em 2010 com "My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky", sucedendo os duplos registos "The Seer" e "To Be Kind" é porventura a sua melhor etapa muito por culpa dos excelentes músicos que rodearam Gira mas também de um amadurecimento de ideias que o capitão desta embarcação conseguiu levar a cabo ao longo desta década.
"Cloud of Forgetting" abre as hostilidades com Gira a clamar no final "I Am Blind" após uma tempestade sonora que não destoaria no cancioneiro dos Godspeed You Black Emperor. Seguem-se os 25 extasiantes minutos de "Cloud of Unknowing", repletos de crescendos e momentos de acalmia. Basta atentar nos títulos das 8 faixas que compõem este registo para facilmente detetar estarmos perante mais um disco conceptual pleno de questões existenciais, ao qual não faltam alusões a religião, sexo, violência, droga e politica e espiritualidade.
"The World Looks Red/The World Looks Black" assenta num dos truques mais usados pelos Swans no qual a repetição de certas frases ecoam no nosso cérebro numa espécie de mantra do qual não temos escapatória. A curta (segundo os cânones da banda) e melódica "People Like Us" resulta numa espécie de intervalo para respirar um pouco ante o sufoco que se avizinha com "Frankie M" dotado de uma primeira parte em registo coral fantasmagórico algo extensa até ao irromper das guitarras num riff que soa a Mono a tentar fazer uma versão do "Revolution" dos Spacemen 3, surgindo posteriormente Gira a cantar sobre drogas numa toada mais descontraída do que lhe reconhecemos, para num ápice a banda voltar à carga com toda a pujança que se lhe reconhece.
A polémica "When Will I Return" interpretada por Jennifer, esposa de Gira, resulta num exorcizar da experiência traumática de violação que foi alvo, algo que poderia ser encarado de uma forma positiva, não fossem os acontecimentos recentes com a cantora Larkin Grimm a acusar Gira do mesmo, algo que foi refutado pelo casal. (A aguardar pelos próximos capítulos).
Prosseguimos para mais um tour-de-force com "The Glowing Man", outro exemplo da mestria musical desta banda que sob a batuta de Gira vai acrescentando ou subtraindo camadas, ora com sucessivas explosões sonoras, mudanças de ritmo inesperadas ou serenando os ânimos quando necessário, enquanto Gira diversifica o seu registo vocal de acordo com a toada reinante.
O apropriado e imponente "Finally, Peace" encerra as duas horas de duração deste disco que confirma uma vez mais que os Swans com esta formação criaram um território sonoro muito próprio e do qual não sabemos como Gira vai dar a volta. Seja como for, esta sucessão de discos fica desde já para a história.