quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Ulrika Spacek - "The Album Paranoia"



"The Album Paranoia" é o registo debutante dos Ulrika Spacek, um projeto idealizado por dois Rhys (Edwards e Williams) após uma temporada em Berlim. Regressados a Londres decidiram gravar na sua casa conjunta, uma antiga galeria de arte de seu nome KEN. O resultado dessa união revela uma banda (entretanto adicionaram mais três elementos) com uma sonoridade que vagueia entre o krautrock, o psicadélico, e o indie-rock.

A faixa de abertura "I Don't Know" ostenta desde logo a cadência motorik dos NEU! para mais à frente transformar-se num tema dos Deerhunter cruzado com os Moon Duo. "Porcelain" assina pelo mesmo diapasão com uma piscadela de olho aos Radiohead e aos TOY. O curto instrumental "Circa 1954" no qual o teclado fornece um colorido mais cinematográfico, abre caminho para "Strawberry Glue" uma tema com uma evidente costela shoegaze. A empolgante "Beta Male" explora os ritmos circulares dos Loop mas com mais melodia à mistura.

A iniciar a segunda metade deste disco temos os 7 minutos dopantes de "Nk" com uma cadência stoner a ajudar à missa com as guitarras em constante remoinho. Por sua vez "Ultra Vivid" é um belo exercício pop e uma vertente pela qual a banda poderá enveredar com sucesso. "She's a Cult" tem carimbo Sonic Youth e My Bloody Valentine, tal como "There's a Little Passing Cloud In You" revela um empolgante jogo de guitarras digno de um Television ou da juventude sónica entre as descargas mais ruidosas e a parte final mais melodiosa. "Airportism" é um mero remate num disco que exala uma banda com evidente bom gosto, cuja elaboração de canções assentes em ritmos repetitivos aos quais vão acrescentando camadas resulta bem mas tende a revelar-se um pouco óbvia e até preguiçosa. Diria que para disco de estreia não está nada mal, contudo acredito que poderão vir a fazer melhor num futuro próximo.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Pop. 1280 - "Paradise"



Eu reconheço que enumerar influências para descrever uma banda ou um álbum é uma via facilitista e redutora, contudo, após as contínuas audições do terceiro registo dos Pop. 1280 a minha mente é invadida por uma avalanche de referências que o mais complicado é evitar citar todas sob o risco de estar a descrever "Paradise" como um mero exercício revisionista da matéria dada, o que não é o caso mas pouco falta.

 Desta feita a banda de Brooklyn acentua a sua devoção pelo rock industrial através dos sinistros teclados e a incessante percussão ao qual se adicionam vocalizações em tom de discurso inflamado e guitarras a imitar o alvoroço de uma qualquer siderurgia. "Paradise" soa a disco conceptual baseado numa sociedade que no atual panorama politico e económico, perdeu a esperança num mundo melhor e depara-se com um cenário distante do paraíso a que o titulo sarcasticamente alude.

Confesso que nunca fui um grande adepto das sonoridades industriais, regra geral aprecio algumas das suas características aliadas a outras vertentes de que são um bom exemplo os Cop Shoot Cop, banda que saltou logo à memória e que estranhamente não vi referida nas diversas criticas a este disco, mesmo tendo em conta que a produção ficou a cargo do afamado Martin Bisi. A partir daí surge a tal enxurrada de similaridades sonoras com os Suicide, Killing Joke, Birthday Party, Nitzer Ebb, Big Black, Swans, Sisters of Mercy, Front 242, Scrapping Foetus Of The Wheel, Fad Gadget, Nine Inch Nails, Klinik, Virgin Prunes e mais umas quantas através das 9 faixas que regra geral possuem uma carga plena de agressividade: "Phantom Freighter", "In Silico", "USS ISS", alternadas com momentos mais pausados e diria até cinematográficos como a faixa que dá titulo ao álbum, "Rain Song" ou "Pyramids on Mars".

Embora "Paradise" possua argumentos suficientes para entusiasmar, no entanto não são suficientes para ultrapassar a barreira de um disco que forçosamente remete em demasia para um exercício de nostalgia.

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Fat White Family - "Songs For Our Mothers"


Os Fat White Family são uma banda de drogados (eles próprios admitem!) com uma sonoridade difícil de catalogar, um sentido de humor deveras peculiar (basta atentar ao titulo deste disco) e cuja pretensão é agitar consciências ao invés de alcançar uma notoriedade que os posicione num horário nobre de um qualquer mega-festival.

"Songs For Our Mothers" é o aguardado sucessor do indefinível registo de estreia "Champagne Holocaust" (2013) que colocou esta bizarra banda nas bocas do mundo graças às suas canções pouco convencionais, vídeos a tender para o chocante e atuações ao vivo a roçar o caótico. Tudo bons indícios portanto, para que este novo disco criasse algum burburinho quanto ao que esta rapaziada seria capaz de elaborar e verdade seja dita, os Fat Whites não só corresponderam às expetativas como tornaram-se ainda mais inclassificáveis.

Apesar de terem melhores condições de gravação, a banda apostou novamente numa produção a tender para o caseiro, contudo, teve mais tempo para explorar em estúdio algo que é notório através da inclusão de vário instrumentos pouco usuais e em extrair sons atrofiados das suas guitarras (por vezes sou levado a pensar que estão verdadeiramente desafinadas!).

"Whitest Boy On The Beach" tem as honras de abertura e não podiam começar melhor com este cruzamento de Suicide, Silver Apples e Clinic. "Satisfied" avança com caixa de ritmos, toada glam, guitarras dissonantes e por momentos dou por mim a pensar nos Tones On Tail. "Love Is The Crack" soa a Thee Oh Sees quando tiram o pé do acelerador e tentam imitar os Beatles mergulhados em ácido, ao passo que a extensa "Duce" é toda uma missa fúnebre de contornos industriais digna do catálogo dos Swans.

"Lebensraum" assemelha-se a uma recriação do "Lonesome Town" de Ricky Nelson via Tom Waits, e a caixa de ritmos volta à carga em "Hits Hits Hits" para um menear da anca insinuante terminando em algo que os Primal Scream poderiam ser os autores. O ritmo motorik dá um ar da sua graça em "Tinfoil Deathstar", pincelada com teclados retro 60's e no final fica a impressão de ter escutado um cruzamento entre os Apse e os dEUS. Prosseguimos para um suposto clássico da Disney sob efeito de LSD e andamento de valsa em "When Shipman Decides" para de seguida entramos no inferno de "We Must Learn To Rise" e terminarmos em beleza com a acústica "Goodbye Goebbels", mais uma referência ao universo fascista que os mais incautos poderão não entender mas quem estiver ciente do quão subversivos os Fat White Family podem ser, acaba facilmente por esboçar um sorriso.