sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Pissed Jeans - "Why Love Now"


Os Pissed Jeans são um quarteto oriundo da Filadélfia e "Why Love Now" é já o quinto longa-duração novamente editado pela mítica Subpop, sendo mais um capitulo na sua sólida discografia iniciada em 2005 numa combinação sonora de hardcore, grunge, sludge e pigfuck, meros rótulos para descrever uma banda intensa, ruidosa, sarcástica, sombria, visceral, dignos sucessores de bandas tão impactantes quanto os Black Flag, Jesus Lizard e Mudhoney.

Este novo registo, quiçá o mais refinado, revela uma maior definição e diversificação sonora em relação aos discos anteriores onde raramente o pé era retirado do acelerador, facto evidente é a faixa de abertura "Waiting On My Horrible Warning" uma espécie de cruzamento entre os Cop Shoot Cop e o "grunhido" mais profundo de Tom Waits. Destaque igualmente para a faixa "I'm a Man" um relato sobre o assédio sexual no local de trabalho mas com a curiosidade de ser narrado pela escritora Lindsay Hunter.

No entanto não faltam malhas dignas do repertório clássico dos Pissed Jeans que facilmente imaginamos a criar reboliço na audiência como "The Bar Is Low", "Ignorecam" ou o relato de homens pagarem para serem ignorados. "Cold Whip Cream" é combustível  para o moshpit, ao passo que "Love Without Emotion" é o mais aproximado aos Killing Joke que alguma vez estiveram.

Ao longo da sua carreira os Pissed Jeans incidem em assuntos mundanos mas diria que o tópico principal é de evidenciar as fragilidades e desmistificar o papel do homem numa sociedade tendencialmente machista e misógina, algo facilmente detectável seja através das suas capas, títulos, ou conteúdo lírico de diversas faixas como "Not Even Married" ou a supra-citada "I'm a Man".

"Why Love Now" assegura um papel de destaque aos Pissed Jeans num panorama onde amiúde a agressividade sonora leva a lugares-comuns, algo que a banda contorna de forma exímia sem nunca deixar de soar contundente.



terça-feira, fevereiro 07, 2017

Crazy Rhythms (1978-1984)

01 "Warm Leatherette" - Grace Jones 02 "L'Elephant" - Tom Tom Club 03 "Me No Pop I" - Coati Mundi 04 "Rockit" - Herbie Hancock 05 "Cavern" - Liquid Liquid 06 "White Lines (Don't Do It)" - Grandmaster Flash & Melle Mel 07 "Walking on Thin Ice" - Yoko Ono 08 "I.O.U." - Freeez 09 "Is It All Over My Face" - Loose Joints 10 "Bustin' Out" - Material W/ Nona Hendryx 11 "Aspectacle" - Can 12 "Wheel Me Out" - Was (Not Was) 13 "Clear" - Cybotron 14 "Confusion" - New Order 15 "Fire" - Lizzy Mercier Descloux

quinta-feira, fevereiro 02, 2017

Uniform - "Wake In Fright"



"Wake in Fright", segundo registo de originais da dupla Michael Berdan (ex-Drunkdriver) e Ben Greenberg (ex-The Men), porventura será o disco mais agressivo que terão oportunidade de ouvir este ano, assente num noise-rock a tender para o industrial repleto de samples e vocalizações "in-your-face" que decerto vão deixar marcas no pavilhão auricular de quem se atrever a subir um pouco mais o volume.

 Assente numa ideia de como lidar com os anjos e demónios que povoam a nossa mente, o desespero como denominador comum a muitas sociedades que levam a certos vícios, a noção de guerra e violência constante, já para não falar nas politicas levadas a cabo por certos lideres, em suma, este mundo está fodido mas todos temos de lidar com isso. A partir daqui os Uniform idealizam um banda sonora de forma a retratar todas estas noções sem floreados nem rodeios.

"Tabloid", a faixa de abertura, irrompe pelas colunas e desde logo a batida maquinal e a vocalização possessa de Berdan num registo entre David Yow, Steve Albini e Al Jourgensen, revelam um disco pronto para deixar o ouvinte K.O. logo ao primeiro round. "Habit" que aborda o tópico do alcoolismo e "Night of Fear" poderiam encaixar perfeitamente na discografia dos colegas de editora Pop.1280 sobre os quais já discorri neste espaço e que comungam com os Uniform uma temática e sonoridade semelhantes.

Ao longo do disco vamos detetando um cunho EBM dos Nitzer Ebb aos Nine Inch Nails, ("The Lost" é quase dançável), contudo transpira igualmente as sementes punk lançadas pelos Suicide e Big Black, para além do industrial-metal dos Ministry, KMFDM, Godflesh e Fear Factory ("The Light At The End (Cause)", "The Killing of America" com direito a solo à Slayer e o puro espancamento sonoro de "Bootlicker"), num todo que transmite uma sensação de terror, pânico e agonia com as quais infelizmente temos de lidar diariamente.