quarta-feira, maio 27, 2015

Death And Vanilla - "To Where The Wild Things Are"


Banda que me escapou ao radar desde a sua formação em 2010, o duo sueco composto por Marleen Nilsson e Handers Hansson, produzem sob a designação de Death and Vanilla uma sonoridade retro-futurista psicadélica assente nas experiências radiofónicas da BBC na década de 60, em bandas-sonoras vintage, em grupos como os United States of America, Stereolab, Broadcast, no dream-pop dos Mazzy Star, Au Revoir Simone, Beach House e Still Corners, partilhando igualmente um universo similar com os recentes Gulp, Virginia Wing e Soundcarriers.

Apesar do seu som soar deveras familiar, estamos perante um disco que em nada fica a dever às suas influências, embora por vezes estas fazem-se notar em demasia. "To Where The Wild Things Are" foi gravado com parcos meios mas isso não impediu a banda de criar um disco com uma rigorosa produção com a voz de Marleen imersa em reverb, os teclados recheados de pormenores e uma guitarra fuzz a surgir a espaços.

Temas como "Necessary Distortions" (que titulo tão Stereolab!), "California Owls" (olá Beach Boys),  a açucarada "Time Travel" ou "The Hidden Space" (olá Silver Apples) são alguns exemplos de um disco que cria vício e decerto fará parte de várias listas dos melhores deste ano.



quarta-feira, maio 20, 2015

Thee Oh Sees - "Mutilator Defeated At Last"



Após a noticia em finais de 2013 que a banda faria uma merecida pausa em termos de edições discográficas e concertos que acabou por revelar-se infundada, os Thee Oh Sees não dão tréguas e retornam com este monstruoso "Mutilator Defeated At Last", um álbum bem mais musculado que o anterior "Drop" e digno sucessor do poderoso "The Putrifiers II" (2012).

Composto por nove faixas com uma duração total de pouco mais de 30 minutos, "Mutilator..." abre as hostilidades em grande com "Web", um tipico tema do seu cancioneiro no qual psicadelismo, garage rock, batida kraut e os habituais gritos de John Dwyer fazem-se notar. O terramoto sonoro de "Withered Hand" soa a Black Lips a tentar imitar os Blue Cheer ou Black Sabbath e aposto que ao vivo deve criar fendas nas paredes!

O melodioso "Poor Queen" numa vertente aproximada ao garage pop abre caminho para "Turned Out Light" desta feita a piscar o olho ao southern-boogie mas sem descambar. O devaneio sónico de "Lupine Ossuary" pode ser encarado como a continuação de "Lupine Dominus" tema maior de "The Putrifiers II". A roçar os quase 7 minutos de duração "Sticky Hulks" é uma pedrada psicadélica com os teclados a contrabalançar os espasmos guitarrísticos, seguido do instrumental "Holy Smoke", igualmente numa toada psicadélica mas numa abordagem mais folky. Logo de seguida somos abanados pelo garage-punk de "Rogue Planet" e o encerramento em beleza fica a cargo de "Palace Doctor".

Mais uma vez os Thee Oh Sees revelam-se como uma das poucas bandas da atualidade em que podemos apostar que nunca farão um disco mau, e isso nos tempos que correm vale muito!



quarta-feira, maio 06, 2015

Mikal Cronin - "MCIII"



Dois anos volvidos após a edição de "MCII",  o talentoso compositor Mikal Cronin regressa com o seu terceiro registo a solo "MCIII" na histórica editora Merge, tendo desta feita arriscado amplificar ainda mais o seu som com uma produção mais elaborada e maior atenção aos arranjos, contudo não fiquem com a ideia de Cronin ter virado um cantor pop com os olhos postos nos tops, a sua música embora acessível talvez figurasse na MTV da década de 90 aquando da euforia grunge e o rock alternativo era a nova mina a explorar.

Dividido em duas partes, "MCIII" apresenta na face A algumas das canções mais apelativas que Cronin já compôs, trilhando terrenos próximos aos Lemonheads, Built To Spill, Rogue Wave, The Shins e a pop californiana dos anos 60. Temas como "Made My Mind Up" ou "Feel Like" são exemplos máximos da sua mestria combinando refrões orelhudos, guitarras acústicas e distorcidas, violinos flutuantes e uma voz adocicada. O lado B consiste num relato sobre uma fase da sua vida aquando adolescente em que teve de se mudar para outra zona do mapa americano e os sentimentos que daí advieram, num relato deveras sincero em seis andamentos. Mais rebuscada, esta face apresenta temas ora "rockeiros" ("Gold", "Ready"), baladas com piano, cordas e sopro a sobressair ( "Alone", "Different") ou mais acústicos ("Circle", "Control").

Cronin estabelece-se definitivamente ao terceiro álbum como um músico a merecer os rasgados elogios que tem granjeado junto da critica especializada, mas acima de tudo, é já um nome com créditos firmados numa discografia exemplar.



terça-feira, maio 05, 2015

Metz - "II"


O power-trio canadiano retorna às lides discográficas após o explosivo disco de estreia editado em 2012 com direito a duas passagens por Portugal que não descolarão tão cedo da memória de quem assistiu. O novo registo simplesmente intitulado "II" não se desvia da avalanche sonora trilhada inicialmente: a guitarra continua a soar a um enxame de abelhas dentro de uma centrifugadora, o baixo não dá tréguas, a bateria tenta suplantar os restantes instrumentos e as vocalizações são basicamente um berreiro descontrolado, resumindo, isto é noise-rock com uma forte costela hardcore cujo alvo é abalar a estrutura óssea do ouvinte e colocar os seus tímpanos a sangrar!

Para além da referência aos Pixies, Big Black e Nirvana (fase Bleach) os Metz recuperam aquele indie-rock dos 90, repleto de suor, ruído, gritaria, violência e sujidade explorado por inúmeras bandas como os Unwound, Jesus Lizard, Unsane ou os colegas de editora Pissed Jeans. De fato os seus registos remetem para essa época dourada do rock alternativo ainda com um forte cunho "underground", e aí reside a sua popularidade, quiçá porque muita gente não se revê neste universo no qual as bandas andam de mãos dadas com o "mainstream", guiam-se pelo que está "in", esmeram-se nas produções mais limpinhas e no visual a condizer com o momento e num abrir e fechar de olhos já estão "out", ou seja, de alternativo possuem muito pouco.

Em apenas meia-hora os Metz sacodem o ouvinte de uma forma que muitos deixaram de estar habituados e uma geração mais nova é empurrada contra a parede questionando-se de onde saiu este tornado sonoro. Podemos afirmar que não descortinamos diferenças entre os dois álbuns, que a banda não se esforçou em mudar algo na sua sonoridade, mas este é daqueles casos em que a velha máxima "em equipa que ganha não se mexe" faz todo o sentido.

sexta-feira, maio 01, 2015