quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Public Service Broadcasting - "The Race For Space"


"Inform-Educate-Entertain", o álbum de estreia da dupla Public Service Broadcasting editado em 2013, foi uma enorme surpresa ao conjugar de uma forma original registos áudio de bibliotecas com uma base musical que deambulava entre o kraut, o pós-rock, a pop eletrónica e bandas sonoras vintage e por conseguinte, não foi de estranhar ter arrebatado o lugar cimeiro na minha lista de melhores discos desse ano.

Desta feita os PSB dedicam-se à corrida ao espaço levada a cabo por americanos e russos entre 1957 e 1972, um tópico com muito para explorar mas que neste disco fica um pouco aquém das expetativas, acima de tudo porque a imagem neste caso faz toda a diferença. Ao estar ausente desta espécie de banda-sonora sentimo-nos algo à deriva em certos episódios, e não teria sido mal pensado terem concebido "The Race For Space" como um DVD.

O tiro de partida de "The Race For Space" é despoletado com uma "intro", abrindo caminho para "Sputnik" um tema electro-ambient-house em crescendo épico que balança entre os The Orb, os Gus Gus, Daft Punk e roça o Jean-Michel Jarre. Segue-se o single de apresentação "Gagarin", uma malha bem funky com direito a secção de metais e um piscar de olho aos The Go!Team. "Fire In The Cockpit" descreve a tragédia da Apollo 1 mas fico com a sensação que poderia ter sido mais desenvolvida em termos de tensão dramática.

"E.V.A." relembra a diversidade do disco debutante, na qual se destacam a batida jazzy/funk e a presença de violino e piano. Assente numa linha inicial kraftwerkiana,"The Other Side" descreve o momento de suspense quando a Apollo 8 perde temporariamente contato com a central, atingindo posteriormente um crescendo pós-roqueiro que peca pela curta duração. "Valentina", com o auxilio das vozes angelicais das Smoke Fairies, aproxima-se da pop atmosférica dos Air mas falta-lhe substância algo que a ritmada "Go!" tem em fartura com insinuações aos TV On The Radio e ao math-rock dos Battles e que poderia ter sido assinada pelos Memória de Peixe.

Chegamos ao final da viagem com "Tomorrow" mais uma faixa que peca novamente pela curta duração com um ritmo a remeter para os Stereolab com direito a xilofone, violinos e um coro. Não sendo de todo um mau disco, "The Race For Space" acaba por ser uma boa ideia à qual faltam pormenores que poderiam alterar a sua audição em algo mais de acordo com o espirito aventureiro reinante neste período.

domingo, fevereiro 22, 2015

Girl Band - "Why They Hide Their Bodies Under My Garage"

Os Girl Band são uma banda irlandesa que aos poucos têm vindo a criar um certo burburinho, principalmente desde que assinaram pela mítica editora Rough Trade, tendo publicado recentemente o delirante vídeo de "Why They Hide Their Bodies Under My Garage" um dos temas incluído no seu "The Early Years Ep" que reúne os singles "Lawman", "De Bom Bom"e respetivo lado B "I Love You" uma versão dos Beat Happening e "The Cha Cha".
Com edição prevista para Abril, este ep servirá como cartão de visita para o álbum de estreia previsto ainda para este ano. O facto deste tema ser uma versão de Blawan, um produtor de dança, revela um pouco da atitude inconformista desta formação que desde 2012 com o single "In My Head"e o ep "France 98" (ambos para download gratuito) tem vindo a refinar a sua sonoridade que tanto pisca o olho ao grunge, como ao post-punk ou ao noise-rock. Muito me engano ou vamos ouvir falar muito mais desta banda que curiosamente não inclui nenhum elemento feminino.

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Indouro Fest!!

Foi hoje revelado o cartaz quase completo da primeira edição do Indouro Fest a decorrer nos próximos dias 2/3 de Maio na Serra do Pilar (Palco principal) e no Jardim do Morro (Palco secundário). O bilhete antecipado custa 45€ e o segundo palco é aberto ao público como mostra de novos valores da música nacional. Destaque obviamente para a presença dos Clinic (uma das minhas bandas de eleição) mas também para o epic-post-punk dos British Sea Power, o psych-kraut dos TOY, o garage-ye-ye dos Limiñanas ou o psicadelismo via México com os Lorelle Meets The Obsolete. Um cartaz com um critério de qualidade assinalável, com muitas estreias em solo luso e com fortes hipóteses de tornar-se numa referência futura no que a festivais urbanos diz respeito.


quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Krill - "A Distant Fist Unclenching"


"A Distant Fist Unclenching" é o terceiro álbum do trio Krill composto por Jonah Forman, Aaron Ratoff e Ian Becker, e são mais uma banda oriunda da fértil cidade de Boston que nos últimos tempos tem revelado ao mundo bandas tão recomendáveis quanto os Kal Marks, Pile e Speedy Ortiz entre outras.
Com a chancela da Exploding In Sound Records, este novo registo dos Krill revela uma banda cada vez mais entrosada e graças à excelente produção de Justin Pizzoferrato, com uma sonoridade ao nível do seu potencial.
Conhecidos pelas suas letras existencialistas, auto-depreciativas e filosóficas, o que levou alguma imprensa a rotula-los de "slacker rock", os Krill revelam uma fragilidade lírica que no entanto é suportada por um rock cuja espinha dorsal desenvolveu-se com base no post-punk, post-hardcore e indie rock que tanto remete para os Fugazi, como os Unwound, Modest Mouse, Joan of Arc, ou os já citados Kal Marks.
Algo que pode afastar ou apaixonar o ouvinte é o timbre algo "cartoonish" de Forman, próximo de um preguiçoso Gordon Gano (Violent Femmes), de um irritado Black Francis (Pixies) ou inclusive dos Ought, com os quais têm sido associados diversas vezes.
Num disco que vale como um todo, destacar faixas é algo escusado mas ainda assim "Torturer", "Tiger" ou "It Ends" são exemplos máximos de um álbum para ouvir em "repeat" aqui ou em formato físico.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Enablers - "The Rightful Pivot"


Corria o ano de 2006 quando a promotora Amplificasom estreou-se nestas lides com o concerto dos Enablers no agora defunto O Meu Mercedes. Quem assistiu deve ainda recordar-se da excelente entrega da banda liderada por um expressivo Pete Simonelli que não se escusou a caminhar sobre o balcão do bar enquanto cuspia palavras encharcado em suor. Posteriormente regressaram à edição de 2011 do Amplifest na Sala 1 do Hard Club (e a pequena promotora a criar um festival de referência) mas apesar do esforço não conseguiram motivar a malta mais dada a sons pesados que aguardavam outras bandas mais do seu agrado.
Chegados a 2015 e com o recém-editado "The Rightful Pivot" debaixo do braço, os Enablers voltam a visitar território luso, desta feita no próximo mês de Março em Vila Real e Lisboa. Recomendo vivamente que estejam presentes (vou fazer por ir a Vila Real) e presenciem uma banda de veteranos na cena underground americana, cuja sonoridade vagueia pelo "so-called-post-rock" de Chicago, Slint, Swans, Nick Cave, Karate e Fugazi e com um contador de histórias extraordinário como Simonelli que tanto é narrador como encarna as personagens das suas extensas letras de uma forma visceral.
"The Rightful Pivot" é o seu quinto registo e apesar da saída do histórico baterista Doug Scharin (Codeine/June of 44/ Rex/ HiM) os Enablers continuam em grande forma como poderão comprovar no seu bandcamp. O novo baterista Sam Ospovat mostra que é um sucessor à altura, enquanto que o resto da banda revela um entrosamento digno de registo. Estão avisados!

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

INDOURO FEST

Primeiro nome a ser anunciado para a primeira edição do InDouro Fest, que irá ocorrer nos dia 2/3 de Maio na Serra do Pilar. É caso para exclamar ooh la la!


terça-feira, fevereiro 03, 2015

Conduct - "Fear And Desire"


"Fear And Desire" é o registo de estreia dos canadianos Conduct, um quarteto originário de Winnipeg que resulta da extinção dos desconhecidos Departures, para além da inclusão de elementos dos Tunic e Cannon Bros.
Gravado no Electrical Audio com Steve Albini a tomar conta da gravação e Bob Weston da masterização, é óbvio que quem recruta dois elementos dos Shellac sabe muito bem que sonoridade pretende que o seu disco emane, e o que exala deste "Fear And Desire" é um rock agressivo, com fundações assentes no pós-punk e hardcore com alguns apontamentos industriais e experimentais, territórios para os quais Albini e companhia têm contribuído ao longo da sua carreira, seja através de bandas ou produção.
Com alguns momentos mais óbvios e outros um pouco à deriva, no entanto "Fear And Desire" possuí argumentos mais do que suficientes para obter uma nota positiva e criar expetativas para o futuro. Apreciadores de Young Widows, Pissed Jeans, Dope Body e Metz podem e devem ouvir aqui por tempo determinado.